FELICIDADE.

Parece que as pessoas estão encontrando a felicidade, a alegria, a amiga me procura e diz:
- Parece que a vida me sorriu.
Que bom, querida.
Era preu escrever em terceira pessoa hoje, mas alegria é em primeira, primeiro lugar, sei que é um troço meio nojento, grudento, açucarado, também não gosto, mas fazer o que se é o que sinto ?
Auto-ajuda não é comigo, mas auto-destruição também já era. Fizeram fotos bem bonitas de mim, atrás da vidraça, a cidade, amigos me observam com olhos benfazejos, que me melhoram, me deixam quase bonito.
Não existe calmaria na madrugada, mas ontem eu estava calmo, som ligado no escritório, luzes apagadas, solidão boa de sentir. Chapação com poesia. Café da manhã com coca-cola, tudo bem, só preciso ir logo ali comprar Halls.
Sinto uma imensidão que me excita sexualmente, uma espécia de cio por que passo, não tem jeito, me resta gozar. Pessoas antigas que voltam com outra roupagem, pessoas que chegam trêmulas de um orgasmo dedicado.
Algo de luxúria sim, mas com luxo.
Alguém diz que aposta & etc que sou gay, pois disse que desejava o Selton Mello.
Risos.
Como é bom mexer com a libido e a imaginação alheia !
Não sou gay, longe disso, mas tomo a causa GLS como algo meu, um mundo feliz, mondo loco.
Escrevo com musas e em nome da segurança, abdico de algumas, ao menos na literatura, prefiro inventar personagens e que são partes minhas.
Musas me guiam na escuridão e me protegem dos olhos mórbidos da menina, no quadro.
Ontem, já hoje, tive alucinações.
Nada ruim, pelo contrário, não são mais os insetos que me incomodam, mas uma raiz do tempo, que começa lá longe e se insere em meu peito, como algo muito, muito bom.
Querida, será que você consegue parar de reclamar da vida ?
Não é difícil. É só tomar banho de lua.
Descubro, por outra amiga, em que lua nasci.
Era quase cheia, quase lobisomen, e ela me diz que não sou vampiro, isso é bom,
estou mais pra lobo, que mata por justiça.
Enterro meus mortos na terra desterrada.
Que o vento leve a poeira e a areia das roldanas cerebrais.
Afundando memórias no deserto, na delicadeza de um poema de Manuel de Barros.
Sexo é unicidade. É para com uma pessoa. Sempre, as canções dizem: "Você".
Sexo é umidade.
Vertigem quente de Halls extra-forte.
Arrepio na espinha numa declaração de amor gemida.
Metáforas e Metonímias transam entre si, trocando figuras de linguagem.
O prazer do texto, Roland Barthes.
Olhar o teto vendo os carros que passam em luzes filtradas pela persiana da minha casa.
Biografia de Sílvio Santos em promoção na livraria é bom presságio de que as pessoas estão um pouco, assim, deixando a idiotice de lado.
Naufrago num quarto escuro.
O navio afundando no horizonte.
Pétalas sobre ursos de pelúcia.
Imagens do dia e do pôr-do-sol.
Tudo gira e gera sem parar.
I can´t stop, baby.
Shake your body.
Do you like me now ?
Do you like me now ?
Do you like me now ?
Do you like me now ?
"Pela estrada afora eu vou com alegria e uma aventura...tudo que eu carrego é o meu Destino".
(Lobão)
Cair na estrada, coragem, vamos cair na estrada.
Se não hoje, amanhã, ou depois.
O importante é ir.
Sorrir.
Nunca fiz uma viagem triste.
Minto: houve uma, um retorno ao paraíso com data de validade vencida, chuva e dominós.
Mas mesmo assim, não foi perdida.
Foi só relaxar e olhar gotas gotejando das folhas enormes e venenosas.
- Estamos velhos, né Dimitri ? As meninas já não se importam com a gente.
- Sim. Estamos diferentes, Paulo.
- Quantas vezes já ouvimos esse cd da Marisa Monte ?
- Perdi as contas.
- Acho que as peças desse dominó estão faltando.
- Sim. Na última vez que você veio aqui, enterramos peças sob a areia da praia, enquanto as meninas dançavam ao nosso redor e a polícia atirava para o céu, e você perdeu sua sapatilha chinesa.
- Eu me lembro.
- Posso colocar a faixa 3 de novo ?
- Claro, Dimitri. Meu irmão. Outro Castro.
É.
A gente tinha sonhos e um porrilhão de planos.
Quando ele partiu, eu o abracei e choramos juntos.
Areia cobrindo tudo, e revelando abrolhos, outras felicidades, outros termos de alegria.
Minha cueca samba-canção está enferrujada, mas ao menos voltou a servir.
Acho que só falta um botão nela, isso aqui está mesmo indecente.
Que legal.
Deixo pra fora e faço carinho.
Minha história em cada dobra,
látex-pergaminho.
Mas agora realmente preciso ir comprar Halls.
Extra-forte.
Beijos.
Felicidade é pra quem tem, truta.