quinta-feira, outubro 05, 2006

Sinfonia Para União dos Povos Doloridos.






você quer mesmo que eu vá ? a sua apresentação de ontem foi ridícula, o que foi aquilo ?
as pessoas acham que eu sei tocar. não teria alcançado a prateleira da Sinfônica se não fosse por tamanha imbecilidade. Eu sei surrar. Eu sei bater e sacudir os cabelos. E sou surdo. Mas me dizem que algum som sai disso daquilo tudo. me traga um presente. algo que me lembre você quando não estiver por perto.
você quer mesmo que eu vá?
pelo jeito você não quer vir.
te disse e vou.
preciso de você.
apenas para terminar a sua sinfonia ?
tem algo maior que isso ?
piano ?
flauta.
sim...flauta.
falaremos de tristeza ?
você sempre quis deixar esse assunto longe de suas obras.
da minha vida.
tem algo maior que isso ?
você é capaz de...apenas gostar do que eu faço.
gosto do teu sexo. e sua obra me parece iluminada. mas sei que é surdo, que não presta, que apenas subterfúgios de chantagem o deixam lá no Municipal. enfim, já tem algo escrito para a Sinfonia ?
alguns trechos.
me mande por e-mail. ou msn. ou
mando. são coisas soltas. não repare.
se eu reparasse, querido, se eu reparasse em sua vida e suas estradas, já estaria longe de qualquer possibilidade...
eu sentiria saudades de suas unhas. sempre tenho saudades das unhas que me abandonam, agora mesmo, estava deitado no lençol azul que você me deu, abraçado, bem sabe, no travesseiro, e lembrei de unhas algumas outras...
mande os trecos, velho.
mando.



Estou deitado no lençol azul e quase choro enquanto penso.
e penso.
mas uma prostituta me telefone. Ela toca harpa. Já solou no Municipal. Mas não deixa a vida.
antes da ligação dela eu pensei coisas.
Depois eu fiquei feliz e voltei à compor. Ela quer fechar um contrato comigo. Trepa comigo de graça, eu escrevo uma sonata ( "alegre") pra ela e isso pode ser um bom começo. Para a minha carreira de moralizador. Que seja. Vou até minha mesa, acendo o abajour e escrevo:

"EU PENSEI COISAS"

Fragmentos lidos por crianças durante a execução sinf § opus 64 § - 3, verc - 23, 26 §
( idade 10, 11 anos )

[ traduzir poeticamente: falar com Paulo Castro : ele pode conhecer alguém : não sei e não quero ser reconhecido : me sinto uma prostituta de calças garbosas, é isso, me sinto o que R. disse, velho...].

No momento da criação, tudo é uma espécie de cópia. Isso é bastante sabido. Mas se criação é vista em nossa sociedade como aliada da União, da Paz, do Perdão, entre as gentes e Povos, o que copiamos, se gerar felicidade, é uma felicidade alheia.

Por isso: em toda felicidade há o ciúmes e/ou o derrotismo de relação. No campo geopolítico: os ciumentos são as lideranças ( sofridas...doloridas ), dos povos. E os derrotados são os verdadeiros ditadores. Ver a relação entre Escravo e Mestre em Hegel. O mestre canta no início. O escravo no final. Com exceção do último espetáculo: não existe justiça. Ou não existe justiça ( que conceito é esse, tão apócrifo do bom senso ?), já que a memória é provada e real ( uma virtude médica, ter "boa memória": ser mau. Cientificamente não existe experiência com "perdão", que é visto sem perdão. Cheiro de festas de fim de ano. Tão ridículas, mas é com elas que louvamos a verdadeira tristeza. A função exata dos planos apaixonados: garantir, tatuar momento certeiro de melancolia, comparações e raiva.)


Só suportamos louvar objetos públicos. Os particulares são dolorosos demais. Os bárbaros, os hunos, roubam igrejas, não há relatos de saque em alcovas de romance. De certa forma, tais relatos já nascem...passivamente amotinados: usurpa-ação.

Uma mulher só pode ser amada como deseja por um homem satisfeito sexualmente por outra : é o que deduzo da leitura inteira de Freud. Interessante comunidade no Orkut: "Ler demais me deixou estranho": no passado. Não "deixa estranho". Por isso que se perde tempo libidinal. Ou colocando de outra forma a questão: o que explica o amor ( projetivo ? ) por livros ? P.C. cheira livros. O incômodo da mulher presenteada com livros ( E. W.T.) : algo da ordem do fetiche. Vulva. O perfume. Simpático livrinho da década de 80. Um homem que decifra almas por perfumes: Oscar Wilde emasculado. O princípio dos sex-shops na idade clássica.

Para a literatura nascer, se faz necessária uma música atonal. Falamos de um tipo específico de literatura. Em que se pode grifar notas. No jantar, durante o preparo: penne ( ou sopa de letras, adequadamente, providenciar com a senhoria ), azeite, muzzarela de búfala, tomate seco. Na radiola: algo como Tickmayer Formatio ( "Nervous Rehearsal" ). Depois, voltar a compor.

[ A prostituta me pergunta quando terei o esboço do contrato: início da semana, querida: hoje é quinta-feira, tarde: eu poderia "compor" { é a palavra que me ocorre} antes : lassidão à fazer um bem suspeito. Ou uma forma de vingança. A vingança contra um objeto nulo dentro do afeto: Crueldade. Não me animo. Penso nos afazeres e no ensaio selvagem de terça-feira ].

Entram crianças maiores e com elas, uma preocupação: a arte que excita. Qual o limite do "olho mau". Olho gordo: o que deseja o do Outro. Ou simplificando e ampliando: o que simplismente...deseja.

( o medo da gordura é o medo da própria maldade ao envelhecer. O nome de onde se "malha" é Academia. Da cultura, idem. Leis & Poderes em um contrato [ prostituído ] : regulamentação dos povos geneticamente condenados ao envelhecer. A condenação não tem data. O corredor da morte já é o enterro. Data a sentença ( "serás humano"), instalada está a maldade. )

Algo que posso sensibilizar a globalização. Isso me parece um projeto tão difícil como o amor eterno, ou a reconquista com nível zero de memória. Ou Crueldade. Arte-fatos. Transformar o banal ( que é o que desejamos quando perdemos ) em sublime ( que é o que não desejamos quando apaixonados). Senso-Comum: "Quem gosta de pobre é intelectual": ou artista. Ser tocado com prazo de validade: como uma vacina, o amor: "sensiblizar":

- Senhor, apesar da surdez, sua obra é ..."emocionante".

Uma voz no telefone me chama pelo diminutivo. Penso que apenas uma pessoa faz isso no universo ( semântico ), no caso, uma cunhada. Logo espalho a coisa para meu irmão. Ele também o faz. Por que pensei na cunhada ( penso e toco-me: nenhum sinal de corpo.) ? Pergunto sobre a origem do sotaque, se é a mesma, ao mesmo tempo que sondo se ficaria feliz com o chamado, ou chamamento da cunhada em especial. Não. E não. Fica claro que é a esposa grávida de um amigo, que esse também me chama de inho. A população inho-carinhosa ( diferente da inho-pedante) se amplia de uma forma que só posso assumir como fenomenal. Marco um chá, sob qualquer pretexto. Um chá de torradas entre a alegria do aconchego surpresa e a vergonha da inveja: assim nasce o silêncio. E ganha significado: feito sinfonia surda, não de "um surdo".

Como unir a nota da esposa-amiga-inho com a prostituta, sem ofender "os ouvidos" de R. ? Não se faz uma sinfonia, obra qualquer, sem provocar o ciúmes do átomo, ele também, sob os direitos da física quântica, "especial". ( Efeito Borboleta ). Paradoxo de intimidade e castração.

Páro em uma padaria para copo de água ( de torneira, tinha dinheiro, mas o cano me coloca em contato com o público( -alvo ?) ). Ouço de alguém, guardo só a camiseta pólo azul e uma totalidade de desmanzelo. Fiapos e Casca de Pão. Farelos. ( palavra quase "paralela" com algum significado, neologismo, muito mais amplo.). Ele diz:

- Um sujeito fode fode fode fode fode fode e então se cansa e quer uma amiga. E se essa amiga for pra ser a grande foda nunca dada pelo cara ? A alegria é tão puta e filha da, que espera a gente cansar pra mostrar a língua.

Penne fervendo no panela. Eu me lembro agora de uma receita embromada e deliciosa. Compor para não chorar. Compor para não comer lágrimas.

R: você nunca me criticou. Ao esboçar isso, sob minha apresentação de ontem, me dá medo. Medo de perder o medo: o comum é isso, o usual é esse medo. Origem dos casamentos com documentação ou não, apenas enredo ritual contra os pesadelos sem graça. ( a música dodecafônica parece "original sound track" de alguma fita de terror, das boas, clássicas. ).
Envio em caráter dissociativo o material acima, talzez ( palavra-cigarro) abaixo ( cigarro-certo), espero que algum bom uso possa e assim assumo deliberadamente, para fins de frases com destino sóbrio, a tenacidade de "etc...". Etc...

O roubo perfeito: uma moeda da sorte - dada pela mulher amada no auge da paixão, agora morta paixão ( se a mulher morre a angústia sugere não uma sinfonia, mas um lamento acucarado) - é roubada junto com um livro de ótimo perfume. Ou seja, a moeda estava dentro do livro. E é uma moeda de alto valor financeiro: fazer disso uma cena crucial, centro-palco, luz incidente: com isso, "emocionar gregos e troinanos".

Mandar convite ( um convite, evento, lançamento de livro, casamento, sinfonia, avant-premier) é um sinal que ninguém consegue, fora um perverso desocupado ( dois fenômenos de ordem planetária ), unir à idéia de tristeza. Função de um convite : espantar os tristes honestos. Coisa rara. Pedir telefone da gráfica para secretária do Municipal. Caprichar.
Convite para a briga: " Por que você não me responde...não estou entendendo".
Colocações desse tipo são como furos na fórmica da argumentação. Falar é humilhar o outro. Calar-se é ser covarde, demasiadamente passivo, não sexy. Ou menos-prezar. Ou seja, diante de um convite para briga, todo enredo já está previamente descrito em certos espíritos sensíveis.

Efeito-Estufa, ou Círculo Viciante ( neurótico ) : eu nego entrar no que é "convidado"... com isso, as coisas só pioram. E mais me calo. Ou surdo. Esconder coisas emprestadas. A transgressão jovial : o roubo aceito sem culpas. Quando se deseja "ardentemente" ( romantismo das notas identificáveis pelo gosto popular, populacho) amor, por medo/solidão/procriação/orgasmo é que nascem as "des-culpas". Avatar da coragem:

- Não me manisfesto por falta de vontade !!! ( Oposto da "liberdade de expressão" como grito de ordem da juventude supra-citada etc assumido ).

Perco a fome. Tenho vontade de tomar o ( * * * ) chá-inho.
( leia-se, Lacan : Carinho).

R. favor enviar o horário de seu vôo. Se eu nãoi puder pegá-la no aeroporto, farei de tudo para não causar em si aborrecimento, dor ou sofrimento. E farei de tudo para não me aborrecer com isso tudo. O preço da leviandade.

Encaminhe para Paulo Castro.
Precisamos terminar a Sinfonia.

Santo Agostinho: "confesso dificuldade, então não tenho mais dificuldade"

Nisso.

Beijos.

Tom.



17 Comments:

At 3:47 PM, Anonymous Anônimo said...

o poeta esta de luto...

 
At 3:47 PM, Blogger Paulo Castro said...

vazio.
é assim




vazia.

a vida.


engraçado.




palco vazio.




não é palco.



mas é algo


tb



muito bom...




deito.




Portugal




estrago suas câmeras....






sou um ponto






.












.






você é outro.






e





tu









idem. .

 
At 4:00 PM, Anonymous Anônimo said...

procure não pensar.

descanse.

chore.

saia da frente do pc.

 
At 4:09 PM, Anonymous Anônimo said...

Muito grato por lembrar de minha eterna figura.
Elegante.
Serei eu Paulo Castro em outra encardenação?
Boa sinfonia!
Toca ela bem alto, faz bastante barulho!
Sou surdo.
Gota de sangue.
Bola dourada.
Uva!
Passa...

Wild Castra
Paradoxo!
Paulinho, jamais...

 
At 4:49 PM, Anonymous Anônimo said...

Boa música de união e dor.
Sensibilidade extravasando, lindo um homem assim, eu quero!
Bj
Eu.

 
At 5:16 PM, Blogger Leila Andrade said...

Algo fora do tom, alto demais quando deveria ser belo. Daí a dor da música, não entende o ouvido se outra melodia diferente toca ao lado, dispersam-se todas as notas.
Começar outra música mais inteira, mais suave, ao alcance das próprias mãos. A surdez é um fio sendo tecido. Momentânea.
Fica bem.
Bjs.

 
At 5:35 PM, Anonymous Anônimo said...

As vagabundas(os)passam
as músicas ficam,
já me lembrava Nina Simone.
Desafinadas sem Tom
ou com Tom Jobina

Quando sai o próximo livro?

 
At 6:09 PM, Blogger Nana Magalhães said...

você ta bem.
bomsom.
tom.
beijos.

 
At 4:26 AM, Anonymous Anônimo said...

Eu gostaria de dançar uma música, mas que fosse como vc imagina, um cinema bonito, de cores para a dor e o prazer. Parabéns, amado escritor. Uma obra-prima, diferente do que vimos ontem, mesmo que seja sobre o mesmo assunto. Beijos.

 
At 4:39 AM, Blogger Roberta Nunes said...

Paulo
R. nunca criticou você?
tem ceretza?
olhe à sua volta, baby.
preste mais atenção à música.
você postou o texto tarde, e eu tenho muito trabalho.
beijo
Ro

 
At 7:02 AM, Anonymous Anônimo said...

Seu nariz não combina com diminutivos.
Cirano de Bergerac!!!

 
At 7:37 AM, Anonymous Anônimo said...

O poeta está vivo!!!

 
At 9:52 AM, Anonymous Anônimo said...

Pela primeira vez me sinto em um conto...Consigo entrar em sintonia c/ vc novamente....


E.S.

 
At 10:22 AM, Anonymous Anônimo said...

que bom!
chega de vida privada né?
eu voto pela ficção!
sintonia, sempre.
carinho, gi

 
At 10:31 AM, Blogger Feffers said...

Opa!!
Tive uma certa dificuldade em ler o texto como algo UNO. Talvez por não captar algumas passagens. Ou pela falta de sensibilidade do boçal aqui. Mas digo que achei algumas delas fantásticas, em especial estas duas aqui:
''Uma mulher só pode ser amada como deseja por um homem satisfeito sexualmente por outra : é o que deduzo da leitura inteira de Freud''.
''Só suportamos louvar objetos públicos. Os particulares são dolorosos demais. Os bárbaros, os hunos, roubam igrejas, não há relatos de saque em alcovas de romance. ''

Massa!

Abs

 
At 11:25 AM, Anonymous Anônimo said...

Lembrei de uma comida italiana que minha avó fazia e eu adorava: minestronne, algo assim.
Senti saudades de minha avó!

 
At 2:37 AM, Anonymous Anônimo said...

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masimundus semikonecolori

 

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