quarta-feira, novembro 08, 2006

Navalha Cega...

Tem dia que de noite é uma merda. Tinha um amigo meu que falava assim. Amigo não, conhecido. Nunca tive realmente um amigo.
Aqui estou eu em casa, numa plena sexta feira, sentado na privada. Tinha um encontro com a Renata hoje. É, aquela mesma do bar. Tudo esquematizado. Muitas vezes penso que sou especial, tenho força, coragem, astúcia para fazer aquilo que desejo. Mas descubro a cada dia que nem tudo está ao nosso controle.
Fui acometido por algum problema intestinal. Resumindo, uma porra duma caganeira. Não sei de onde surgiu, mas acabou com minha noite de gala. Olho para o chão desolado e encontro minha calça jogada, a cueca com uma freada, a camisa com o cheirinho do perfume Armani (elas adoram) e o garrote, que estava no bolso. Uma pena. Iria levar a faca também, mas essa nem tive tempo de pegar antes de sair. A dor de barriga veio antes. É...Não foi a primeira vez que as coisas não deram certo para mim.
Lembro bem da primeira vez que quase perdi minha autoconfiança, minhas forças naquilo que acredito fazer melhor. Eu estava na casa de uma morena muito simpática, porém feia. Acho que aí que começou a dar tudo errado. Não gosto de atrair as feias, mas às vezes elas aparecem e eu achei que deveria fazer esse favor ao mundo. Foi a única vítima por quem não me senti atraído em toda minha vida.
Estávamos no banheiro, e resolvi acabar com aquilo rápido. Azulejos brancos por toda a superfície das paredes, assim como o piso. Ligamos a banheira e preparamos tudo. Ela foi a primeira a entrar. Pensei em entrar também, mas não valia a pena. Aquele olho esbugalhado não me atraía em nada. Então, esperei ela relaxar na água quente e fingi uma ‘’sede’’. Iria preparar um drink para nós. Estava apenas de cueca e fui para a cozinha.
Chegando lá, fiz duas caipirinhas bem meia boca, virei uma e levei a outra para o banheiro. Na passagem peguei uma faca pequena e um limão (sempre é bom ter uma desculpa caso me peguem de surpresa).
Entrei no banheiro. Ela estava cantarolando, olhos ainda fechados, água evaporando de uma banheira bastante quente. Sorri. Ia ser fácil. Aproximaria-me do alvo, voz aveludada, mão na cabeça e fóóó!! Faca na garganta.
Mas o que aconteceu foi algo sem explicação. Quando dei por mim mesmo estava acordando no pronto socorro próximo à casa dela, de cueca. Em algum momento do trajeto até a banheira escorreguei no piso molhado. Faca prum lado, limão pro outro, copo ao lado cortando minha mão e a cabeça abrindo com o choque no piso. Segundo ela apaguei na hora da paulada. Estampido seco e surdo.
Passei uns dois dias fazendo exames e em observação no hospital. E o pior de tudo. Ela ficou esse infindável tempo ao meu lado. Ficou com dó de me deixar sozinho, pois acreditou na história de que minha família morava em outro estado. Carícias, cartinhas, flores. Ela dizia estar apaixonada. Toda vez que abria meus olhos e encontrava aquele par de olhos esbugalhados me observando de maneira gentil, doce e meiga me dava asco, sem falar da vergonha.
Saí do hospital no terceiro dia com uma ‘’namoradinha’’ a tira-colo. A ‘’namoradinha’’ mais feia do mundo. Ela queria me levar pra casa dela. Nem fudendo. Disse que estava bem, entrei num táxi e fui pra MINHA casa. Prometi ligar de volta e pensando numa morte rápida para ela.
Nunca mais a vi. Um misto de dó, culpa e vergonha me inundavam toda vez que lembrava (e lembro) do episódio. Pensei em ligar para agradecer, mas achei a idéia ridícula. Virar sentimental naquela altura do campeonato só mostraria fraqueza. Demorei, como disse, a me recuperar dessa história, mas hoje é passado. E quem vive de passado é museu já disse isso? Olho pras calças largadas no chão novamente. Lembro da gostosa da Renata, que deve estar me esperando ainda. Marcamos num bar novo do centro. Ideal para um dia especial. Ninguém conhecido, muita gente...mas a safada vai escapar dessa.
É...Tem dia que de noite é uma merda.

postado por...Fernando Alonso

3 Comments:

At 4:16 AM, Anonymous Anônimo said...

Boooa, Fernandão!
(vou pegar essa dica do perfume Armani, hehehehhehe)
Grande abraço!

 
At 10:06 AM, Blogger Feffers said...

hahahaha

fala cirão, tem de ver uns perfumes mais novos aí, não sei se ele manda tão bem quanto eu não...Tem perfumes melhores aí hein?
(brincadeira Loirinha! - a patroa!)

Abraço!!

 
At 10:22 AM, Blogger Viviane said...

Olá! Lí o primeiro texto seu com esse personagem e gostei mais deste segundo. É irônico um maníaco com crise de consciência.
Gosto do jeito que vc escreve, entretanto, histórias de serial Killers me dão calafrios, mesmo quando não tem violência, como a sua. É que a simples possibilidade da existência deles me causa medo.

um abraço

 

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