terça-feira, outubro 31, 2006

Out

(postado por Roberta Nunes)

Tento, como um afogado, me agarrar nos destroços dos navios que me resgataram.
Mas, como sempre, trago um trago no olhar, e a malícia leva tudo para o fundo.
O bem.
Que bem?
Que bom?
Que gosto tem?
Salgado, claro.
Como o mar poluído, rasgado por canais de águas podres, sangrado por entulho e lixo e bichos mortos.
Tento, com desespero, afundar sozinha.
E vejo as rosas vermelhas espalhadas na água.
Homenagem ao homem.
Homenagem à virtude.
Perdida, entre fôlegos e suspiros.
A virgem carrega o cântaro e sorri, e caminha pra longe, sobre águas e crânios (engraçado, das órbitas vazias pinga cera de vela...), e sinto cheiro de vinho e promessas trocadas ao luar.
Tudo confuso no meu afogamento.
Respiro.
Meus pulmões vão enchendo, enchendo.
Mas, tudo não passa de uma banheira cheia.
De água.
De dor.
De sangue dos pulsos cortados.
De sangue da língua mordida.
De sangue da facada nas costas.
Do aborto.
Um chifre de unicórnio pode se tornar uma arma muito eficiente.
Metros e metros de seda se tornam amarras.
As ondas tentam, claro, me arrastar pra longe.
Pra longe da sua cama segura.
Da sua escrita pungente.
“Me dizem que sou muito intenso...”
Wow.
E o meu silêncio diz muito mais do que você pensa.
Não quero falar de amor com você.
Quero falar de solidão.
E do sangue coagulado.
E da porra que grudou no chão e no meu cabelo.
Amor não.
Amor, não.
O seu amor dói.
Dói por ser o que eu preciso pra viver.
O bote salva-vidas...
Rasgado.
A jangadinha improvisada, vigas dos navios, mastros e retalhos de velas, cordas roídas pelos ratos.
Tumores.
Como o vampiro velho e desdentado, arranco o (meu) coração, e chupo até não sobrar nada, nem uma gota de sangue.
Passo os dedos manchados nos olhos, e a visão turva e vermelha, me leva de volta para o mar.
Para o afogamento iminente.
Nada de adiamentos.


“Please come over me
And do it again
You have to be sinful
My only friend, you are
Take away all our
Differance
For everything's empture
We should pretend
All that we are” -
Again It's Over - Lacrimas Profundere

“Venha por favor, sobre mim.
E faça outra vez
Você tem que ser pecaminosa
Minha única amiga, você é
Leve todas nossas
Diferenças
Por todo reino
Nós devemos fingir
Tudo que nós somos”



4 Comments:

At 9:36 AM, Anonymous Anônimo said...

belo texto!!!

 
At 10:43 AM, Anonymous Anônimo said...

Perturbador, Rô! A começar pela imagem!
Muito bom!

Bjos

 
At 11:26 AM, Anonymous Anônimo said...

Roberta, (ou Rô, como sei que prefere), refestelo-me em suas palavras, embriago-me delas toda terça, toda terça! Continue sempre. O da semana passada estava tesão puro, hoje é quase dor. Quase dor... Quase.
Ai, hoje estou sensível!

"E o meu silêncio diz muito mais do que você pensa... O seu amor dói..."

 
At 7:56 PM, Blogger Feffers said...

Oi Rô;

Sua cara, sua linguagem e bem escrito. E como diz o Ciro (sumido Ciro) perturbador!!

Bjo!

 

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