Navalha - Identidade revelada

- Chefe!
- Eu quero um Johnny duplo, com bastante gelo.
- Ok. Água acompanha?
- Não bebo água. Faz mal.
- Hehe, é verdade.
Garçons. Sempre rindo de nossas piadas idiotas quando ele queria mesmo era me mandar pra merda, largar aquele emprego imbecil e partir.
- Como anda o movimento da casa?
- Estou aqui há bastante tempo, mas é difícil dizer. Tem dias que a casa lota, tem dias que está mais vazio. Às vezes aparecem umas gatinhas, outras umas mulheres bem feias sabe? Muito irregular. Tá procurando uma gata pra hoje?
- Talvez...
Talvez eu não esteja afim de porra nenhuma hoje. Olho para o lado e percebo que algumas pessoas começam a entrar na balada. Calor humano. A coisa começa a ficar interessante. Lembro do meu terapeuta. Outro idiota, porém, se não fosse ele talvez eu não tivesse aberto meus olhos. Mal sabe que estudei tudo sobre Winnicott antes de consultá-lo. Eu quase implorei por ajuda. Tive vontade de acabar com minha vida, mas sabia que a maldita teoria da solidão essencial o impediria de me ajudar. De interferir e me apoiar em meus momentos de maior dificuldade. Eu estava sozinho, como sempre. E aí me veio o estalo. Se ele não deve interferir, mesmo que eu venha a ter tendências homicidas, porque alguém deve interferir, caso eu resolva matar alguém? No mesmo momento me lembrei dela. Aquela ingrata e vagabunda.
- Mais um duplo Senhor?
- Pode ser...
- Tá ficando tarde. Tem certeza que esse lugar vai pegar ainda hoje? Não tô vendo muita...
Uma gritaria tem início logo ao meu lado. Casal brigando. Ela bêbada, ofendendo o cara, e ele, com as bochechas vermelhas, ameaçando um tapa. Meu sangue transborda e sinto uma quentura na face. Quase perco o controle. Me retiro ao banheiro. Lavo o rosto, e me olho no espelho. Adoro essa parte. Acalma os nervos. Retorno ao meu copo, ao meu assento, e sorrio para o barman, que faz sinal de que tudo está ok novamente. Nesse momento, olho para trás e noto uma morena se aproximando. Linda. Linda não, delícia. Coxas grossas, cabelos ondulados e sardas no rosto. Ao vê-la caminhando com todo aquele estilo até doía, de tão bela, sexy que ela era. Safada. Não devia valer nada. Nem um pão com ovo. Foi então que ela sentou-se dois assentos à minha direita. Trocamos alguns olhares. Parecia amigável. Puta. Dando mole para o primeiro que a encarava.
- Tudo bem?
- Tudo e você?
- Qual seu nome?
- Renata.
- Prazer, Vladimir... Mas me chame de Vlad.
( Postado por Fernando Alonso - Ilustração de Silvio Sguizzardi)
7 Comments:
ADOREI texto e ilustração!
Beijos
O Vlad me parece interessante, mas será que a Renata consegui desenvolver o papo com ele? Ou ele teve que tomar mais uma dose pra isso?
Hum... pensando bem, o Vlad não queria um bom papo! Se tivesse afim disso seus camaradas estariam com ele.
O que ele queria era uma noite de sexo e normalmente sexo não se faz com os camaradas ! ..rs...
Fernando,
está diferente.
um texto seu, mas diferente.
melhor.
bem melhor.
e...continua?
beijos
Ro
Texto bem escrito e narrado. Gosto deste estilo.
Gostei demais da crônica...
mas.. Winnicott??? hahahahahaha... ng merece :P
Parabéns!
bjo
Obrigado pessoal!
E...continua sim Rô!
:))
bjs
Boooa, Fernandão! Quero só ver essa continuação, hehehhe!!
Grande abraço!
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